domingo, 3 de maio de 2009

Sessão nostalgia: Putas e Damas de antigamente


Tive o prazer de crescer ouvindo algumas histórias do meu avô sobre as putas e damas de antigamente. Principalmente as histórias do antigo prédio Martinelli em São Paulo.Onde ele durante muto tempo morou.

Mesmo antes de sua conclusão o prédio já havia se tornado um símbolo e ícone de São Paulo – em 1931 o inventor do rádio, Guglielmo Marconi, visitou a cidade e foi levado até o topo do edifício. Quando o Zeppelin sobrevoou a cidade em 1933, deu uma volta em torno do Martinelli. Foi nesse período que ele começou a morar ali.

Não irei me deter na história do seu fundador Giuseppe Martinelli e sim nas histórias que meu avô narrava com a arte de um contator de histórias. Durante esses momentos eu vivia cada cena narrada. Era um transportar de corpos e almas para o passado. O passado dele...tão rico em detalhes..Ele me falava dos cabarés..das mulheres que ficavam nas escadas em busca de clientes..e também da famosa sala de dança que ali existia. Tudo em volta do prédio também tinha o mesmo o" ar."
Entre os inquilinos do prédio, partidos políticos como o PRP, jornais, clubes (entre eles o Palmeiras e a Portuguesa), sindicatos, restaurantes, confeitarias, boates, um hotel (São Bento), o cine Rosário, a escola de dança do professor Patrizi. Mas voltemos ao Martinelli.

Dançar não era para qualquer um..principalmente quando se vêem para a uma cidade sem família e sem amigos..Como aprender a dançar em uma época que se um homem olhava para uma mulher já era visto com "maus olhos"?Como chamar uma moça para dançar? como ter a companhia de uma mulher..se o mercado de trabalho não possuia mulheres? Se as salas de aula eram separadas..Mulher valia ouro assim dizia meu avô..E para ter algumas.. ele pagava.

Assim era na antiga sala de dança do Martinelli..quer dançar? Paque a ficha e escolha sua parceira de dança..Com ela se aprendia a dançar..flertar..namorar não! Namorar já eram com outras damas..que podiam ser escolhidas nos cabarés.Cabaré é algo que "quase" não existe mais. Era o local de trabalho das damas, das mulheres da noite. Nele havia uma dona, geralmente uma senhora respeitável, dona na arte de fazer um homem gemer sem sentir dor, conhecedora de mistérios somente revelados à meia luz, entre gemidos e sussurros.

Ali existiam as meninas, elas tinham, cada uma, seu quarto, suas coisinhas, seu mundo. Tinham hora para trabalhar. Tinham clientes preferidos. Também tinham amigos. Tinham uma vida. E, acredite, essa não era nada fácil. Meu avô foi amigo de várias delas. Conheço várias histórias delas. Acredito que meu avô me trasformou em uma espécie de diário dele. Foi assim desde os meus oito anos de idade até o dia de sua morte. Ele foi um grande amigo.

As putas meu avô costumava falar que eram as meninas que ficavam nas esquinas das ruas. A perdidas entre as escadarias. E naquela época era muito normal a rivalidade entre elas..havia o status de pertencer aos cabarés.Podiam ser putas como todas as outras..mas eram putas de luxo..eram verdadeiras: Damas na arte de receber.


Pagava-se para entrar..pagava-se para beber..e se sobrava uma grana pagava para namorar uma delas.Ir a um cabaré nem sempre significava buscar sexo pago. Freqüentava-se cabaré para beber, conversar com os amigos, com as meninas da casa, ver um show, enfim, para se divertir e relaxar. Ao final, meu avô falava: " voltava para casa de espírito mais tranqüilo e sem necessariamente ter chegado às vias de fato". Ali ele mantinha boa parte de seus amigos.
Diferentemente da França da Belle Époque..onde os cabarés se constituiam por frequentadores das camadas mais abastadas..No Brasil dos idos de 1925 até os meados do anos cinquenta com a extinção dos cassinos o Brasil viveu seu apogeu com os cabarés..frequentados muitas vezes por trabalhadores que viviam em busca de lazer..companhia e prazer..Classe operária viveu seu paraíso.
Meu avô viveu no Prédio Martinelli até o fim dos anos quarenta e inicio dos anos cinquenta.
Era das Putas e Damas que ele dizia sentir mais saudades...
Hoje acordei com uma saudade sem fim dele..e nem as minhas lágrimas conseguiram diminuir a saudade..Precisei escrever..falar dele..e daquilo que ele mais gostava de sentir saudades..das putas e damas que povoaram São Paulo de antigamente.
Deusa


7 comentários:

As Moiras disse...

É, Divina... Sua saudade está bem edificada ;)

Ao menos você sabe onde ela mora e está, né?
Visite-a sim, linda, senão é ela quem sentirá sua falta...

Beijoooooooooooooooos da Vamp

Helô Müller disse...

Saudades só as temos de quem amamos ...
Bela texto e sentida lembrança, valeu !
Obrigada pela visita, querida !!
Helô

Amar Yasmine disse...

"A Dançarina e o Príncipe"


Certa vez, vieram para a corte do Príncipe de Birkasha uma dançarina e seus músicos. Tendo sido admitida na corte, ela dançou a música da flauta, do alaúde e da cítara.

Executou a dança das chamas e do fogo e a dança das espadas e das lanças. Dançou as estrelas, o espaço e, então, dançou a dança das flores ao vento.

Quando terminou, aproximou-se do príncipe e curvou o corpo em reverência diante dele.
O príncipe ordenou que ela se aproximasse e perguntou-lhe:

"Bela mulher, filha da graça e do encanto, de onde vem sua arte e o que é este seu poder ao comandar todos os elementos em seus ritmos e versos?"

E a dançarina, aproximando-se, curvou mais uma vez o corpo em reverência e respondeu:

"Sua Alteza Real, Sereníssimo Senhor, eu não sei a resposta para suas perguntas. Somente isto eu sei: a alma do filósofo habita sua mente, a alma do poeta habita seu coração, a alma do cantor habita sua garganta, mas a alma da dançarina habita todo o seu corpo."

To adorando o blog novo, Deuzinha querida.
Leveza e magia não faltam aqui... muito menos bom gosto e sensibilidade.

Beijo no coração, doce criatura!

*;-)

Deusa Circe disse...

ô minha Deusa...
Saudade é boa quando sabemos que podemos matá-la com um forte abraço, mesmo que esse abraço demore um tempo para chegar.

mas essas saudades que não tem previsão de fim dói tanto, né?

Tenho umas assim...
Também perdi pessoas próximas muito caras para mim. Meu irmão morreu há 7 anos atrás, sou acostumada com esse fato hoje em dia, mas é o tipo da saudade que jamais será sanada...

o jeito é burlar esse sentimento rsrsrs.

*bjos*

Helô Müller disse...

Oi canceriana nata !! rs
Que bom que gostou ... Tou saindo de viagem e não poderei ter a velocidade que gostaria, mas eu volto logo !! rs
Beijos meus !
HelÔ

As Moiras disse...

Receba um forte abraço meu, Caríssima. Desses de quebrar as costelas.

Morgana.

Simplesmente Ser disse...

Saudades é sempre bom sentir, gosto de relembrar momentos passados, principalmente da minha juventude, essa época do seu avo deve ter sido maravilhosa, apesar de ter certeza que não iria me adaptar as regras da época, ela tem um ar muito gostoso e cheia de misterios para quem a viveu. bjos amor